Este mês há uma entrevista, mas esta pode ser para
alguns como mais uma entrevista que o blog fez,mas para mim, não. Primeiro
porque o autor entrevistado é sergipano e segundo ele é meu vizinho de
município, e isso é bastante gratificante diante da imensa falta de incentivo à
leitura no estado de Sergipe, espero que vocês curtam a entrevista como eu
também curti/curto. O entrevistado desta vez é Jowilton Amaral da Costa,
ele é dentista e como o próprio diz “quando o dentista não trabalha, o escritor dá o ar de sua graça e labuta.” Vamos conferir a entrevista?!
Como surgiu o seu interesse pela escrita?
Meu
interesse em escrever surgiu depois que eu li um livro chamado “Feliz Ano Novo”
de Rubem Fonseca, eu devia ter dezoito anos. Esse livro foi um dos primeiros
que eu li na transição entre os livros juvenis, que li bastante, principalmente
os da série Vagalume, e os livros mais adultos. Eu já tinha lido um livro antes,
do próprio Rubem Fonseca, chamado “Vastas Emoções E Pensamentos Imperfeitos”,
durante esta transição, entretanto, foi com “Feliz Ano Novo” que comecei
realmente a pensar em escrever. Este livro foi censurado por muitos anos no
Brasil. A linguagem usada pelo Rubem, tão comum e cotidiana, misturada com sua
crítica social e sua fria violência realista, me arrebatou, fiquei de cara,
como se diz na gíria. Além do mais o Rubem Fonseca possui uma erudição
impressionante, que ele usa e abusa em seus contos e romances, isso também me
chamou a atenção. Contudo, só fui começar a escrever quando já tinha quase
trinta anos e mesmo assim durou pouco tempo, rabisquei alguns contos em folhas
de papel almaço, que não dei continuidade. Fiquei sem escrever por muitos anos
e retornei em 2010, dezembro de 2010, com trinta e sete anos, e de lá pra cá
não parei mais. Penso que morar em Nossa Senhora de Lourdes-SE e ter meu
consultório acoplado a casa que eu moro, sou Cirurgião-Dentista, contribuiu
muito no ato de escrever, tem dias que não aparece ninguém para atender, e
esses dias são os mais proveitosos para a escrita, quando o dentista não
trabalha, o escritor dá o ar de sua graça e labuta. Tenho alguns contos
publicados; “Com A Benção De Deus” na antologia de contos policiais “Os
Matadores Mais Cruéis Que Conheci (OMMCQC)” e “O Diário De Um Soldado Colérico”
no livro “Contos Medonhos”, ambos lançados pela Editora Multifoco Sul, e tem um
terceiro conto que logo será publicado, também pela Editora Multifoco Sul, no
livro “The King”, que será uma coletânea de contos, em dois volumes, em
Homenagem ao mestre do terror Stephen King. O meu conto “O Amaldiçoado G. T.
Sullivam” será publicado no volume I. Outros dois contos meus foram publicados na
Revista Literária Flores Do Mal, organizada pelo Círculo Literário Analítico
Experimental (CLAE), na nona edição foi publicado o conto “Vocação” e na décima
edição o conto “Molares”; os dois são contos de terror. Também tenho outros
contos concorrendo em seletivas por várias editoras do Brasil, e posto contos
nos sites Recanto das Letras e Autores, além de participar de vários grupos de
escritores no facebook.
E a sua inspiração para criar os seus contos?
Bem,
falar de inspiração é difícil. Escrever não é mediúnico como podem pensar;
requer disciplina, estudo e esforço. Acho que a inspiração vem de livros,
filmes, sonhos, do cotidiano e, principalmente, da vida. A vida com todos os
seus mistérios, e seus altos e baixos, talvez seja a maior fonte de inspiração
para um escritor. Quando tenho na cabeça o final do conto, o restante vem mais
fácil. Normalmente eu fico com uma ideia de um conto na cabeça durante alguns
dias, sem colocar no papel, que no caso aqui é a tela do notebook. Fico com
aquilo martelando, martelando, até que me sento em frente ao computador e
escrevo. Algumas vezes termino no mesmo dia, outras vezes demoro mais tempo. A
parte de revisão é a mais demorada. Uma revisão minuciosa é um ponto a mais
para o escritor iniciante, e principalmente para quem posta textos na internet.
Quando você se autodenomina escritor, o mínimo que os leitores esperam é que
você trate bem o português. Um erro aqui outro ali, sempre vai ocorrer, o que
não pode acontecer é o escritor ver que está errado e não corrigir. Um conto
limpo, arredondado e sem erros graves, é agradável ao leitor. Falando
especificamente do conto “O Diário De Um Soldado Colérico”, eu me inspirei em
escrevê-lo depois de ler um conto chamado “Um Acontecimento Na Ponte Owl Creek”
do estadunidense Ambrose Bierce. O conto narra um enforcamento de um sujeito
durante a guerra civil norte-americana. Quando terminei de ler tive a ideia de
escrever um conto de terror que teria como tema a Guerra Do Paraguai. Então,
inventei um fato extraordinário e aterrorizante que se passa dentro de um
acampamento do exército brasileiro durante esta guerra. Parece que o conto
agradou.
Ao ler o seu conto, O Diário de um Soldado Colérico, percebi o seu imenso domínio na
arte da escrita. Você já pensou, tendo como base esse conto, escrever uma
estória?
Agradeço
muito o elogio, mas, não possuo ainda um imenso domínio na arte da escrita, e é
verdade, não é nenhuma falsa modéstia, quem me conhece sabe que não sou tão
modesto assim (Hahahahaha). Lembre-se que minha formação é a Odontologia. Eu
tenho muitas dúvidas quando escrevo um texto, e por isso tenho uma equipe de
amigos revisores, amigos pessoais e virtuais, não vou citá-los, eles saberão
que falo deles quando eles lerem a entrevista, que me ajudam muito nas
correções e no ritmo dos contos. Eles leem meus escritos antes de serem
publicados. E a esses camaradas eu aproveito para agradecer a força, o
incentivo e a ajuda. Meus amigos, muito obrigado! E continuando a responder sua
pergunta, eu não pretendo escrever nada baseado no conto “O Diário De Um Soldado
Colérico”; ele ficará mesmo sendo só um conto, que eu gosto muito, mas só um
conto.
Qual a sua opinião sobre o incentivo a leitura
no estado de Sergipe?
Minha
opinião é que o incentivo a leitura aqui em Sergipe é tão precária quanto o de
todo o Brasil. O incentivo a leitura é praticamente inexistente no país todo.
Eu tenho uma frase que é assim: “A leitura deveria ser como escovar os dentes.
A criança tem que ser estimulada desde muito pequena. Ela vai reclamar, vai
espernear, vai chorar, mas, com o tempo, se tornará um hábito. Um Hábito
essencial para a saúde do intelecto”. A
leitura é essencial ao crescimento intelectual de qualquer pessoa, além de
divertir, confortar e emocionar. Talvez se víssemos nos intervalos das novelas,
propagandas de livros e não comerciais de grandes empresas de eletrodomésticos,
por exemplo, já seria um grande passo. Blogs e sites, como o seu, são também de
suma importância para o crescimento do número de leitores, principalmente os
mais jovens, que poderão se tornar futuros escritores. A internet também é um veículo poderoso para
esse incentivo. Foi na internet que conheci muitos escritores iniciantes e
também conheci o Afobório, hoje o considero um grande amigo, que foi o cara que
me convidou para publicar meu primeiro conto.
Há planos para o lançamento de seu próprio
livro?
Sim, tenho planos para um livro
só meu! Inclusive, já tenho selecionado alguns contos para o livro, que seguirá
a linha do terror e do suspense, com muito sangue esguichando. Tenho também um
plano de um romance policial, na verdade uma ficção científica que acontecerá
nas ruas de Aracaju. Contudo, isto ainda vai demorar. Quero primeiro me firmar
como escritor de contos. Ser reconhecido como um bom contista é a minha ideia
principal por enquanto.
Você possui algum autor ou autores que admira?
Meus escritores favoritos são:
Rubem Fonseca, Machado de Assis, Gabriel Garcia Marques, Charles Bukowski, Fiódor
Dostoievski, Edgar Allan Poe, Stephen King (Não necessariamente nesta ordem),
entre outros. Eu leio muito, o que cair na minha mão eu leio. Estou lendo agora
o livro “O lobo Da Estepe” de Hermann Hesse, um escritor alemão, que
provavelmente entrará para os meus favoritos.
Qual a sua dica para àqueles que pretendem
começar a escrever?
Meu conselho é que leiam muito,
muito mesmo, e escrevam bastante e revisem o dobro. E mostrem a cara, postem na
internet, em sites de escritores, em grupos do facebook. Quem não se mostra
dificilmente será notado.
Eu agradeço imensamente ter te conhecido e ainda por cima descobrir que
você é meu vizinho de município, isso é ainda mais gratificante! Desejo-lhe
muito sucesso na sua vida profissional.
Gostaria de agradecer a
oportunidade que você, Natália, está dando na minha divulgação como escritor.
Desta forma as pessoas irão conhecer um pouco mais sobre mim, e sobre essa
minha nova empreitada. Vão descobrir que o sonho de ser escritor me acompanha há
muito tempo, e não foi apenas um surto de um dentista meio amalucado
(huahuahuahua). Também gostaria de dizer que fiquei muito impressionado quando
soube da sua idade (15 anos) e que você é de Itabi-SE, minha vizinha. Achei
extraordinário que uma menina dedique seu tempo em divulgar livros e
resenhá-los, e com ajuda de Mikaelle, que foi minha cliente quando ela tinha
seis ou sete anos, e que agora é sua colaboradora (Tô ficando velho mesmo,
hahahahaha). Vocês estão de parabéns. Iniciativas como essas deviam ser
seguidas por muitos outros. Você é um exemplo. Torço pelo sucesso de vocês e do
blog, vida longa para ele. Mais uma vez obrigado e um grande abraço meninas.